terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O não dito



Em alguns anos eu vou rir da ingenuidade de hoje. O que me tira o sossego agora, já não significará nada - o que não ameniza o tormento.
Ou quem sabe em vinte anos eu ainda me lembre do seu jeito de coçar a barba. Da mão pesada na minha pele morna. A respiração e o afago... Tudo o que pensei por um instante e logo em seguida me permiti esquecer - não parecia o certo, então a voz não saiu.
A pergunta agora é: Terei algum arrependimento? Não por se tratar de você, ou dos outros que ocuparam algum espaço na minha vida, mas por mim, que sou incansável na busca por respostas inexistentes.
Esse é o maior problema quando se trata de decepção: Jamais seremos os mesmos.
Cada história leva um pouco de nós -  e as vezes ainda deixam algo pra trás. Entre tapar buracos e carregar fardos, amor virou utopia. Como é que acredita outra vez?
E a gente tenta (muito). Porque no fim das contas a fome maior é a do espírito. O corpo pede toque, porém a alma pede companhia.
Mas aos poucos, nos tornamos seres que precisam se sentir no controle, por medo da vulnerabilidade que representa amar alguém. Aos poucos, perdemos a capacidade de colocar sentimentos nas mãos dos outros, simplesmente por não saber o que esperar em retorno. E nos mutilamos, ferimos...
Não existe volta pra isso. Uma vez que desconfiamos de todas as palavras que são ditas, colocamos à prova todos os atos, sempre esperando o "sinal" de que está fadado a dar errado - outra vez.
Precisamos controlar tudo, pra no fim das contas não sentir culpa por algo que deixou passar... Algum sinal que não viu... Como se estivesse ao nosso alcance impedir que tudo desmorone.
E confiar então é motivo de riso. Vergonha. Pois já não somos capazes de olharmos nos olhos e enxergar verdades.
Dentro desse cenário me questiono sobre  o ser que me tornei, sobre todas as palavras que eu não disse, o que eu deixei de sentir e o que eu senti em excesso. Me questiono sobre você, sua hiperatividade e tudo o que se esconde atrás dessa boca que sorri o tempo todo.
Meus olhos inquietos estão procurando os sinais, porque não sou diferente dos que se fecharam.
Por baixo de toda frieza e hostilidade, existe apenas medo.

E por baixo desse medo está tudo aquilo que não lhe foi dito... E talvez nunca seja.


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